Foto e Grafia

E o Sagrado se rende ao Profano

Ao som de uma tradicional marchinha entreouvida pela janela do meu home-studio-office, em pleno domingo de um feriadão, me animei a ressuscitar o Blog, no melhor estilo carnavalesco: o do Rio de Janeiro.

Mas o que merece registro, aqui e agora, é um fato ocorrido na semana passada, que deu lugar aos pré, aos esquenta e a tudo que prepara corpos e almas para a entrega definitiva nos salões, na avenida e nas ruas cariocas.

Em meio ao trânsito já caótico, por força da volta às aulas e da proximidade de uma sequência ininterrupta de dias de ócio, a bordo do “famoso” (pelo menos nesse blog) ônibus do condomínio, meus olhos distraídos se depararam com uma larga faixa colocada bem na frente de um templo religioso.

É claro que achei estar imaginando coisas. Depois melhorei minha postura, virando a cabeça para reler a mensagem. Bem, só posso ter piorado da miopia, pensei, rindo sozinha. Numa terceira e concentrada tentativa, tive a certeza de que realmente lera de forma correta.

Acontece que o teor da frase era tão inusitado que o breve trajeto entre o estímulo da visão e o processamento pelo cérebro não foi suficiente para que aquilo fizesse algum sentido.

Numa rua do Jardim Botânico, balançava-se ao vento a seguinte “oração”: “Não fique só no Suvaco. Conheça Cristo por inteiro.”

Sempre imaginei que, assim como Danuza Leão faz suas malas Louis Vuitton e abandona a cidade maravilhosa nessa época tumultuada, os cristãos mais fervorosos se isolassem em retiros espirituais, rezando e pedindo clemência para os pecadores do samba, do suor e da cerveja.

Jamais poderia supor que, além de ficarem no interior de suas igrejas, os missionários ainda anunciassem em alto e bom português que, após saírem no bloco de foliões carinhosamente denominado de Suvaco do Cristo, os homens travestidos de mulher, as oncinhas de meia arrastão e fio dental, os sheiks árabes com suas garrafas de uísque camufladas por debaixo da túnica e as coelhinhas da Playboy, sacudindo seus provocantes rabinhos, deveriam entrar e se dedicar à oração: a do cartaz na entrada e a dos livros sagrados.

Sinal dos tempos.

Com a concorrência desleal dos dias de hoje, entre seitas, segmentos e cultos multimídia, nenhum filho de Deus pode ser renegado. Ainda mais num lugar cujo maior símbolo, eleito uma das sete Novas Maravilhas do Mundo Moderno, é o Cristo Redentor.

Alô, meu povo! Lá vem a Nação Cristã aí, gente! Todos em busca da salvação.

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