Foto e Grafia

A Internet e seus miquinhos amestrados

Estamos na era do acesso à informação sem limites. E esse é o lado bom da Internet, especialmente para quem não tem filhos pequenos. Aliás, dificilmente o conteúdo deste blog seria divulgado se esperasse passar por todo o processo que antecede uma publicação em papel.

Mas toda essa agilidade também deu origem aos celulares multifunção, aos tablets interativos, às comunidades on-line, levando a comunicação pelo mesmo caminho. Pena que, sob a desculpa da necessária rapidez, escrever muito e de forma correta foi-se tornando a típica mensagem de velho.

Agora, ser moderno é sair abreviando palavras, eliminando acentos e fingir que nunca aprendeu sinais de pontuação. Ser cool é achar até o e-mail equivalente a um mensageiro trazendo um recado a cavalo. Ler qualquer coisa com mais de duas linhas é perda de tempo. Escrever textos com mais de 140 caracteres, nem pensar. Ah, e pensar, nem pensar.

Isso tem reflexos não só na escrita como na atitude das pessoas. No Brasil e pelo mundo afora. Quem já não se pegou olhando para uma mesa num restaurante com um casal sentado, ambos olhando para uma microtela luminosa, mexendo os dedinhos compulsivamente e sem trocar uma palavra ou um olhar sequer? Ok, digamos que nesse dia você tenha esquecido seus apetrechos eletrônicos em casa ou eles estejam sem bateria, e você teve a chance de olhar em volta.

A dúvida assolará sua mente. Será que eles não se conhecem e decidiram dividir a mesa para não ter que esperar na fila? Ou estão brigados e preferem se distrair sem discussão enquanto a comida não chega? Pior: será que estão conversando entre si? Pelo Facebook? Oh, Céus…talvez esta seja a opção mais terrível.

Porém são modernos, não há dúvida. Não perdem tempo, isso é certo. Aí, mais uma questão me vêm à mente. O que hão de fazer com tanto tempo economizado por deixar de escrever muito, evitar conversas olho no olho e deletar as breves mensagens sem memorizar seu conteúdo, muito menos quem as mandou?

Esse ser avançado vai fazer da celeridade uma marca registrada. Em tudo. Quando viajar de férias, além de carregar toda essa parafernália de aparelhos e seus respectivos carregadores, seguirá de cidade em cidade como um míssil sem direção. Andará de ponto turístico em ponto turístico fotografando e twittando: olha eu aqui no Met! Meia hora depois: olha eu aqui no Central Park! Dez minutos depois: olha eu aqui no avião, indo pra próxima cidade!

Tudo merece ser descartado numa fração de segundo. Falou o que eu não queria ouvir, não adiciono como amigo. Perguntou como foi a viagem, respondo: meu álbum já está na WEB há séculos. Convido pela rede, sem nem saber se o indivíduo tem computador ou confere sua caixa de entrada com regularidade. Tudo bem, nem vou me lembrar se ele comparecer. Como é o nome dele mesmo?

Ufa! Fiquei cansada de tanta correria. Devo estar ficando velha.

Não, esperem um pouco. Estou longe de descartar os recentes recursos tecnológicos, como vejo as pessoas das gerações anteriores à minha fazerem.

Entretanto, meu negócio é usar o leitor para adquirir livros digitais, por serem mais baratos, e driblar o problema da falta de espaço para guardar os de papel, que se amontoam como podem no interior dos armários.

Uso a Internet para contar pequenas histórias, mostrar fotos e falar um pouco sobre filmes e lugares, usando ferramentas de busca para confirmar dados; utilizo sempre torpedos, pois considero uma maneira rápida, eficiente e não invasiva de falar com os outros sem interromper algo relevante. Trabalho o dia inteiro no computador, sendo parte de minha atividade inteiramente digital.

E exatamente via WEB soube que Einstein proferiu as seguintes palavras: “Eu temo o dia em que a tecnologia vai ultrapassar a interatividade humana. O mundo terá uma geração de idiotas.”

Sou mais otimista. Acho que ainda dá tempo de contrariar a clarividente conclusão do Gênio. Basta usar a tecnologia para ganhar tempo e usar esse precioso bem para estar com os amigos em carne e osso, conversando sem pressa e olhando diretamente em seus olhos, ouvindo com atenção cada palavra, saboreando um gole de vinho após respirar fundo e fechar esses mesmos olhos, sentindo a brisa do mar roçando em seu rosto e o aroma de um bolo recém-saído do forno.

Corra bastante, sim, para depois fazer tudo que tem importância beeeeem devagaaaaar. Assim, vale a pena se adaptar aos tempos modernos, sem parecer nem tão idiota nem tão velho. Einstein agradeceria. E eu também.

2 comentários em “A Internet e seus miquinhos amestrados”

  1. Parabéns pelo texto. Não vejo que essa situação irá mudar, acho que tende a piorar. Esquecemos nos dias atuais de algo que sempre ajudou a humanidade a evoluir: Refletir.

    Responder
  2. Não escrever muito, não ler frases com mais de duas linhas, ignorar acentos e pontuações, enfim será que tudo isto é para não perder tempo ou não seria justamente uma perda de tempo? principalmente considerando

    Responder

Deixe um comentário (* campos obrigatórios)